Cerca de quinze anos depois de ter lido “O Mundo de Sofia”, tive o prazer de, na semana passada, assistir em DVD à minissérie baseada no livro. A obra do escritor norueguês Jostein Gaarder, lançada em 1991, é um passeio pela história da Filosofia, tendo como fio condutor tanto o universo literário quanto os artifícios pedagógicos normalmente presentes em livros didáticos.
O livro, que foi traduzido para 55 línguas e vendeu mais de vinte milhões de cópias, já foi apontado como superficial e “água-com-açúcar” por filósofos, escritores, críticos literários e mesmo por vários leitores. Eu discordo desta visão, pois sei que muitos gostariam que a Filosofia ficasse no pedestal que esteve durante muito tempo. Ao contrário, como professor da área, fico feliz sempre que vejo a Filosofia ser esmiuçada com simplicidade, ser popularizada em produtos de qualidade, como a série “Ser ou Não Ser”, produzida pela filósofa Viviane Mosé e exibida há dois anos pela Rede Globo como quadro do Fantástico.
A Filosofia está aí de volta como disciplina do Ensino Médio. Há também críticas sobre a forma como isto se deu (alguns acreditam que algo assim não funciona por força de lei). Mais uma vez discordo. È importante reconduzir a Filosofia aos currículos escolares, pois a sua essência é levar as pessoas a desenvolverem senso crítico, a terem mentes afiadas para o pensar que transforma, que as faz ver o mundo com outros olhos. Como é possível desconsiderarmos o bombardeio de conteúdos superficiais, disparado nas mentes das novas gerações?
Não que a Filosofia seja o antídoto para a superficialidade de idéias que tanto empobrece a vida de crianças, adolescentes e adultos neste novo milênio. No entanto, ela é um caminho milenar construído justamente para ser um contraponto a tudo que é raso.
A Sofia de Jostein Gaarder é uma adolescente prestes a fazer 15 anos, como tantas outras da mesma idade, mergulhada no lugar comum da sua própria geração. Ao ser instigada a pensar por um misterioso filósofo, que, a princípio, invade a sua vida através de cartas e bilhetes, a menina faz uma jornada pela história da Filosofia, desde a Grécia Antiga até os dias de hoje, conhecendo o que não sabia e reaprendendo a ver a vida sob uma ótica mais ampla e profunda.
Como quase sempre acontece com versões de livros levada para o cinema ou para a TV, O Mundo de Sofia – a esmerada minissérie norueguesa – apresenta apenas uma parte do que pode ser apreciado na obra literária. É, no entanto, uma forma bem interessante de conhecer do que é capaz Jostein Gaarder, que tem outras obras interessantes, a exemplo de “O Dia do Curinga”.
Agrada-me a sua fórmula de misturar Filosofia e Literatura, histórias dentro de histórias. Em sua narrativa assumidamente simples há sempre algo escondido que o leitor precisa desvelar. Este é o papel de um filósofo autêntico: ter prazer em instigar a si próprio e as pessoas a encontrarem caminhos, a não aceitarem o que lhes é apresentado como pronto. A propósito, esta deve ser a postura de quem tem “sofia” (sabedoria, em grego), de quem pratica a Filosofia (amor pela sabedoria).
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