A Política dos Muros

Andando pelas ruas do Brasil pode-se ter a atenção despertada pela atenção que os muros pedem.

Chamam a atenção, não pelas pinturas e grades ou pelo isolamento de que são símbolos, mas para as reflexões possíveis. Entre elas: liberdade-prisão; segurança-ameaça; estética-feiura; convivência-isolamento... E neste momento de corrida em direção às urnas, às idéias em contraposição podemos acrescentar a reflexão política.

E se prestarmos atenção aos muros, não os que ficam em cima do muro, veremos que eles defendem duas bandeiras antagônicas: votar ou não votar. Muitos muros afirmam e convidam o Eleitor: “Vote nulo” ou então “anule seu voto, não alimentem os corruptos!” e muitas outras expressões do mesmo gênero.

Esses muros, no exercício da democracia, são contrários aos votos. Eles sabem que o voto transfere o poder do eleitor ao político. Sabem que pelo voto o cidadão delega suas decisões à decisão dos políticos. Assim sendo não votar significa não legitimar a corrupção, o desvio do dinheiro público, a safadeza, o apadrinhamento... e, não legitimar a exclusão a que é submetida a grande maioria da população deste Brasil de tamanho incomnesurável.

Do outro lado do muro está a outra linha da reflexão política. Outro tipo de discurso. E precisamos reconhecer que a atitude desses muros, fachadas, placas e outros anúncios fazem outro tipo de apelo: “vote em fulano” ou fazem um apelo mais trágico: “eleja competência, vote em sicrano”.

Também no exercício da democracia esses muros manifestam outra consciência política. Acreditam que se pode melhorar o país elegendo o candidato certo, mais comprometido com o povo; um que veio do meio popular, que não representa os interesses de empresas e grupos econômicos. De acordo com essa linha de pensamento esses muros-políticos poderão fazer a virada. Acreditam e defendem que com isso poderão endireitar o Brasil. (nem se deram conta de que não é o Brasil que está torto, tortas estão as pessoas...) torto, tortas sta de que ndo daopulaçolamento de que s
Nesse ponto do debate os muros nos lançam o desafio: “Votar ou não votar? (Eis a questão)”.

No meio da conversa com os muros acabei dando minha opinião. No fundo concordo com os dois lados do muro. Temos que não votar, mas precisamos votar. Dialética? Não. Problema de verdade, não filosófica que essa não é contraditória, a não ser para contradizer a mentira. O problema da verdade, na verdade está no fato de a verdade não ser plena num só aspecto. Ela bebe em vários poços.

Então compreendamos: Não votar, anular o voto, votar em branco, é covardia, costuma-se dizer. É ter medo de ser feliz num futuro ainda indefinido. Escolher um candidato, votar, eleger alguém é o outro lado da coisa. Como as pessoas não trazem a alma desenhada na testa e nem contam suas verdadeiras intenções, a gente pode passar um tempão escolhendo. Votar naquele que considera o melhor e depois perceber que fomos enganados: elegemos um corrupto ou que desenvolve posturas e atividades que vão contra aquilo em que acreditamos e pelo que sonhamos e que desejamos para a nós, nossos filhos e concidadãos.

Como, então fazer a escolha certa entre o votar e o não votar? Como escolher corretamente entre inúmeros candidatos entre os safados e aqueles que podem ser bons representantes do povo?

Para isso não tem resposta pronta. Mas existe um termômetro que pode ajudar a medir a temperatura de um candidato: é fazer uma viagem pelo seu passado. “O fruto não cai longe da árvore” falou Jesus. “A história é a mestra da vida”, ensinam alguns historiadores.
Nessas alturas é bom lembrar até mesmo outras contribuições. Tem aquele alemão, Bertolt Brecht, que fez um poeminha, que já fez sucesso em muitas circunstancias e que se chama O Analfabeto Político. Claro que não se fala só do político analfabeto, mas do analfabetismo crônico da população, a respeito de e da política. O poema é dirigido não ao político, mas ao eleitor e ao povo em geral que gosta de fugir da responsabilidade de discutir política, pois em todos os atos e situações do cotidiano a política está presente.

Diz o poema:

O pior analfabetoé o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala e nem participa,
dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio,
dependem de decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo que odeia a política.
Não sabe, o imbecil, que de sua ignorância política
nascem a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos
que é o político vigarista,
pilantra e corrupto
e lacaio dos exploradores do povo.

Assim sendo, já que os muros nos desafiam à discussão política não vale a pena perder a oportunidade não só de discutir política, mas de nos alfabetizarmos nessa área repleta de novidades. Onde encontramos verdadeiros atoleiros, mas também alguns espaços onde florescem jardins perfumados. E são os muros que apontam para essa liberdade. Não a liberdade de votar ou não votar, pois a isso somos obrigados, mesmo a contragosto, o que implica dizer que não há liberdade no voto. A liberdade a que as prisões dos muros nos convidam é a liberdade de pronunciar uma palavra que permitiu o progresso da humanidade; uma palavra que produziu o mundo em que vivemos, contraditório, injusto, mas um mundo no qual podemos acreditar na possibilidade de dizer NÃO.

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