Giordano Bruno (1548-1600)

Giordano Bruno (Nola, 1548 — Roma, Campo de Fiori, 17 de fevereiro de 1600) foi um teólogo, filósofo, escritor e fradedominicano italiano condenado à morte na fogueira pela Inquisição romana (Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício) por heresia. É também referido como Bruno de Nola ou Nolano.[1]

Notas biográficas

Filho do militar João Bruno e de Flaulissa Savolino, seu nome de batismo era Filippo. Adotado o nome de Giordano quando ingressou na Ordem Dominicana (no convento de Nápoles em 1566), aos 18 anos de idade. Lá, estudou profundamente a filosofia de Aristóteles e de São Tomás de Aquino, doutorando-se em Teologia.

Sempre contestador, logo atraiu opiniões contrárias e perseguições. Em 1576 abandonou o hábito ao ser acusado de heresiapor duvidar da Santíssima Trindade. Iniciou, então, uma peregrinação que marcou sua vida, visitando Gênova, Toulouse, Paris e Londres, onde passou dois anos (1583 a 1585) sob proteção do embaixador francês, freqüentando o círculo de amigos do poeta inglês Sir Philip Sidney. Em 1585, Bruno retornou a Paris, indo em seguida para Marburg, Wittenberg,Praga, Helmstedt e Frankfurt, onde conseguiu publicar vários de seus escritos.

Defensor do humanismo, corrente filosófica do Renascimento (cujo principal representante é Erasmo), Bruno defendia o infinito cósmico e uma nova visão do homem. Embora afilosofia da sua época estivesse baseada nos clássicos antigos, dentre os quais principalmente Aristóteles, Bruno teorizou veementemente contra eles. Sua forma e conteúdo são muito semelhantes às de Platão, escrevendo na forma de diálogos e com a mesma visão.

Um viajante durante muitos anos, recebeu influências de culturas diversas. Culto e dotado de grande sagacidade, Bruno desenvolveu ideias inovadoras e muito avançadas para sua época que misturavam neoplatonismo místico e panteísmo. Acreditava que o Universo é infinito, que deus é a alma universal do mundo e que todas as coisas materiais são manifestações deste princípio infinito. Por tudo isso, Bruno é considerado um pioneiro da filosofia moderna, tendo influenciado decisivamente o filósofo holandês Baruch de Espinoza e o pensador alemão Gottfried Wilhelm von Leibniz.

Giovanni Mocenigo, membro de um das mais ilustres famílias venezianas, encontrou Bruno em Frankfurt em 1590 e convidou-o para vir a Veneza, a pretexto de ensinar a mnemotécnica, a arte de desenvolver a memória, em que Bruno era perito. Segundo Will Durant (História da Civilização, volume VII), Bruno fora há muitos anos posto fora da lei pelaInquisição, ansiosa por prendê-lo por suas doutrinas subversivas, mas Veneza gozava da fama de proteger tais foragidos e o filósofo sentiu-se encorajado a cruzar os Alpes e regressar. Como Mocenigo quisesse usar as artes da memória com fins comerciais, segundo alguns, ou para prejudicar seus concorrentes e inimigos conforme outros, Bruno negou-se a lhe ensinar. Segundo Durant, Mocenigo, católico piedoso, assustava-se com "as heresias que o loquaz e incauto filósofo lhe expunha", e perguntou a seu confessor se devia denunciar Bruno à Inquisição. O sacedote recomendou-lhe esperar e reunir provas, no que Mocenigo assentiu; mas quando Bruno anunciou seu desejo de regressar a Frankfurt, o nobre denunciou-o ao Santo Ofício. Mocenigo trancou-o num quarto e chamou os agentes da Inquisição para levarem-no preso, acusando de heresia. Bruno foi preso no San Castello no dia 23 de maio de 1592.

Por estas opiniões quentes e perigosas para a época que Giordano Bruno foi condenado pela Inquisição. No último interrogatório não se submeteu, mostrando força e coragem. Por não abjurar, é condenado à morte na fogueira, mas antes de morrer queimado no Campo de' Fiori, ele afronta ainda mais uma vez seus inquisidores. É dito que cuspiu no crucifixo, porém alguns consideram que este relato seja falso, e tenha apenas o objetivo de denegrir sua imagem. Morreu na fogueira com uma tábua e pregos na língua, para parar de "blasfemar".

Em 8 de fevereiro de 1600, obrigado a escutar ajoelhado a sentença de condenação à morte, lança aos seus juízes a histórica frase: Maiori forsan cum timore sententiam in me fertis quam ego accipiam ("Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-la").

A execução de sua sentença ocorreu no dia 17 de fevereiro de 1600.

Ideais

Ao contrário do que se pensa comumente, Giordano Bruno não foi queimado na fogueira por defender o heliocentrismo de Copérnico.

Um dos pontos chaves de sua cosmologia é a tese do universo infinito e povoado por uma infinidade de estrelas, como o Sol, e por outros planetas, nos quais, assim como na Terra, existiria vida inteligente.[2] Sua perspectiva se define a partir das idéias de Nicolau da Cusa, Copérnico e Giovanni Battista della Porta.

Segundo John Gribbin, em seu livro Science: A History (1543-2001), Bruno filiou-se ao hermetismo, baseado em escrituras egípcias, da época de Moisés. Entre outras referências, esse movimento utilizava os ensinamentos do deus egípcio Thoth, cujo equivalente grego era Hermes (daí hermetismo), conhecido pelos seguidores como Hermes Trimegistus. Bruno teria abraçado a teoria de Copérnico porque ela se encaixava bem na idéia egípcia de um universo centrado no sol.

Deus seria a força criadora perfeita que forma o mundo e que seria imanente a ele. Bruno defendia a crença nos poderes humanos extraordinários, e enfrentou abertamente a Igreja Católica e seus preceitos.[1]

Obras

clip_image001

Monumento erguido em 1889 por círculosmaçônicos italianos, no local onde Giordano Bruno foi executado. Campo de Fiori, Roma, Itália

§ De umbris idearum, 1582

§ Cantus Circaeus, 1582

§ De compendiosa architectura, 1582

§ Il Candelaio, 1582

§ Ars reminiscendi, 1583

§ Explicatio triginta sigillorum, 1583

§ Sigillus sigillorum, 1583

§ Le ombre delle idee, 1582

§ La cena de le ceneri, 1583

§ De l’infinito universo e mondi, 1584

§ De la causa, principio e uno, 1584

§ Spaccio de la Bestia Trionfante, 1584

§ Cabala del Cavallo Pegaseo, 1585

§ Gli eroici furori, 1585

§ Figuratio Aristotelici Physici auditus, 1585

§ Dialogi duo de Fabricii Mordentis Salernitani, 1586

§ Idiota triumphans, 1586

§ De somni interpretatione, 1586

§ Animadversiones circa lampadem lullianam, 1586

§ Lampas triginta statuarum, 1586

§ Centum et viginti articuli de natura et mundo adversus peripateticos, 1586

§ Delampade combinatoria Lulliana, 1587

§ De progressu et lampade venatoria logicorum, 1587

§ Oratio valedictoria, 1588

§ Camoeracensis Acrotismus, 1588

§ De specierum scrutinio, 1588

§ Articuli centum et sexaginta adversus huius tempestatismathematicos atque Philosophos, 1588

§ Oratio consolatoria, 1589

§ De magia, 1591

§ De vinculis in genere, 1591

§ De triplici minimo et mensura, 1591

§ De monade numero et figura, 1591

§ De innumerabilibus, immenso, et infigurabili, 1591

§ De imaginum, signorum et idearum compositione, 1591

§ Summa terminorum metaphisicorum, 1595

§ Artificium perorandi, 1612

Bibliografia em língua portuguesa

§ Bruno, Giordano. Sobre o infinito, o universo e os mundos. São Paulo: Abril Cultural, 1992.

§ Bruno, Giordano - Acerca do infinito, do universo e dos mundos, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa,1984

§ Bombassaro, Luiz Carlos. Giordano Bruno e a filosofia na Renascença, Caxias do Sul: Educs, 2008.

§ Ordine. Nuccio. O umbral da sombra. São Paulo: Perspectiva, 2006.

§ Reale, G. & Antiseri, D. - História da Filosofia, Volume II, Ed.Paulus, São Paulo, 1990.

§ Yates, F. A. - Giordano Bruno e a Tradição Hermética, Ed. Cultrix, São Paulo, 1988.

§ Bossy, John, Giordano Bruno e o Mistério da embaixada, Ediouro, 1993, 272p.

§ West, Morris L., O Herege, Record, 1969, 195p.

Nenhum comentário: