Viver na atualidade é ligar a televisão, navegar na internet, ler livros, andar nas ruas, conversar com as pessoas, sair para se divertir, namorar, transar e trabalhar! Viver é ainda expressar uma comunicação que muitas vezes apela para sentir o momento, aquele momento do orgasmo petit mort (pequena morte em francês), o prazer, que os antigos gregos chamavam hedoné!
Dentre os filósofos quem mais se destacou ao salientar a importância do prazer foi Epicuro de Samos (341 a.C). Ele fundou uma escola filosófica, o “Jardim”, que concebia o homem como um ser corpóreo e sensível, formado por átomos, que procura especificamente realizar seus desejos. E dizia Epicuro: “Cuspo no belo moral, se não houver prazer nele”. Atualmente, essa mentalidade “epicurista” é expressa no sistema social, cultural e comportamental, voltados para o prazer pelo prazer, o hedonismo. O fim do homem torna-se a sensação prazerosa, “elas por elas”. Então confundem prazer com felicidade.
O que acontece então com nossa época? São muitas coisas. Podemos salientar que ao sentir-se um vazio e uma falta de sentido para a vida, muita gente busca certos refúgios não muito qualificáveis serem feliz: consumo-excessivo, poder-desumano, drogas-excessivas, riqueza-desonesta, hiper-sexo. É o prazer na expressão mais “chã”, com fim em si mesmo! Como finalidade da vida. Epicuro ficaria escandalizado, pois ele via a hedoné (prazer) como meio para encontrar a eudaimonía (felicidade ou beatitude)!
Infelizmente, muita gente se contenta com uma vida totalmente determinada pela mais intensa sensação imediata, uma compensação para a miséria e o desespero. Como aquela metáfora da droga, “soma”, usada por Aldous Huxley, no romance “Admirável Mundo Novo”. A droga sempre compensa a angústia de uma civilização sem sentido e sem vida, infeliz.
Hoje! Quase tudo se resume na compra e venda de mercadorias ou em drogas a serem ingeridas, ou em prazer momentâneo e super-intenso mediado por anfetaminas, adrenalina, testosterona, progesterona e estresse. Pessoas se tornam mercadorias, mercadorias se tornam coisas, lembrando o filósofo marxista Lukács.
Isso é doença que como um grande monstro não se satisfaz. Um grande animal que sorve mais e mais a força vital das pessoas. Nesse caso, a hedoné (prazer), longe de ser um remédio, para responder às questões da vida, torna-se, no tempo contemporâneo, algo incapaz de conceder um proceder sábio, sadio e satisfatório para a angústia, miséria e injustiça que permeiam as pessoas e a sociedade.
Consequentemente, as pessoas ficam incapazes de ir além de si mesmas. Surge, então, uma violência sem par, uma noção de humanidade sem limites éticos, cujos resultados são barbárie, violência, sangue, guerra. Como diz o filósofo francês, André Comte-Sponville, é “o labirinto de Narciso”, que o deixa preso no seu universo de sensações, no seu ego destrutivo e destruidor.
Então, há um declínio considerável da humanidade. Tudo adoece! Tudo mesmo, dignidade da vida humana, seu caráter de ânimo e de vivacidade, o corpo, a expressão comunicativa. Uma doença que prejudica a possibilidade de ir além da “balada noturna”, dos estimulantes sintéticos e ilegais, da transa descompromissada e da conta bancaria satisfatória. Ao esquecer o sentido da vida, há apenas crueldade, desprezo e aberrações do mundo. Justificando até as injustiças, as exclusões, as mortes, os fundamentalismos e a onda conservadora dos moralistas.
A vida bem vivida, segundo os sábios filósofos, aponta a excelência da sabedoria, à eudaimonía (beatitude e felicidade), tudo isso na realidade que é permeada também pelo desespero de viver num mundo inacabado e cheio de desafios. Portanto, encontrar a completa fundamentação para a vida e o seu sentido é o perfeito restabelecimento da nossa humanidade, e assim fazê-la agir em direção da beleza, do amor que supera a mentalidade hiper-hedonista no tempo contemporâneo.
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