Sócrates é a figura-modelo do filósofo no Banquete. A sua maneira de ser, sua personalidade, personifica o filósofo em potencial. A situação intermediária em que o amor se encontra, é a descrição do filósofo. E justamente essa situação, é que proporciona o movimento, a função motora, que leva a aspirar com razão e inteligência, o ordenamento, a regência do próprio homem.
A purificação da alma exige provações, renúncia, anulações, desapegos, abandono, libertação enfim. É a sublimação dos sentidos, e isso se passa na alma. E quem não esteja puro, não pode alcançar a pureza.
Na referência a Sócrates, o amor eleva a alma, que se recolhe em si mesma, sem a influência dos sentidos. Isso corresponde a pensamento. E pensamento nesse sentido, vem a ser um estado de alma, de pureza, como uma preparação para a morte (dos sentidos). A temperança, o comedimento, a ousadia e a coragem, a esperança, a serenidade, a lucidez, no caminho da justiça, da bondade, para atingir o autocontrole, é a meta do filósofo, ou seja, tornar-se virtuoso. É o que Eros almeja transfigurar-se em virtude.
O sábio não busca a sabedoria, porque já a possui. Os ignorantes também não a buscam, pois não pensam ter deficiência ou carência alguma. O filósofo é o que busca, tem carência de saber. E Eros, o amor, é filósofo, é o amante. E o seu amado é o belo, o justo, o bom, o verdadeiro. O amado é a felicidade, que é ter para si o que é bom e belo. Dessa maneira, Eros e Sócrates, compondo uma unidade, representam a figura do filósofo.
Sócrates, assim como Eros, é presunçoso, persuasivo, arma ciladas, é irônico, ignora tudo e nada sabe, e cerca os belos jovens, buscando a beleza. E os seus discursos filosóficos chegam à alma, agitando, impulsionando, a buscar por amor àquilo de que está privado. Sócrates é feito Eros, um caçador de almas.
Eros e Sócrates, ambos os filósofos estão em estado intermediário, na busca, na luta pela sua completude. E a Filosofia vem a ser o exercício da virtude, como um modo de vida, uma ação correspondente a um discurso, que é fundamentado na idéia que tanto ama, ou seja, o Bem. E o amor revela o Bem. Por isso o amor é considerado divino. Sabe que não sabe, mas busca saber.
O amor quer a morte, porque quer a satisfação do seu desejo, o preenchimento da sua falta, ou seja, quer ter a posse do que não tem. Por isso diz-se que a Filosofia é uma preparação para a morte, esta é a escalada que faz o amor, e enquanto não chega se incumbe do exercício, da ação, dos preparativos, sempre em estado de espera.
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