Embora ainda não tenha completado uma década de existência, o filme Matrix (a primeira parte da trilogia, lançada em 1999) continua despertando interesse e debate dentro e fora do universo acadêmico. A obra, roteirizada e dirigida pelos irmãos norte-americanos Andy Wachowski e Larry Wachowski, já é um marco no cinema de ficção científica não apenas pelos efeitos especiais inovadores, mas por abordar um tema sempre intrigante sobre a natureza humana: a linha tênue que separa realidade e fantasia.
Essa trilogia (que tem ainda “Matrix Reloaded” e “Matrix Revolutions”, ambos de 2003) tem como cenário um futuro bastante sombrio, quandoa maior parte da humanidade se encontra aprisionada pela Inteligência Artificial – sua própria criação. As máquinas que criaram a Matrix inseriram quase todos os seres humanos em uma realidade virtual, na qual vivem uma existência que não é, de fato, a sua.
O personagem principal – o hacker Neo (interpretado pelo ator Keanu Reeves) – é tirado dessa falsa realidade por aqueles que escaparam do domínio da Matrix. Representando a ponte entre o mundo real e o virtual está Morpheus (interpretado por Laurence Fishburne), um dos principais líderes dos humanos sobreviventes nos subterrâneos do planeta.
Embora não seja algo tão explícito, a história levada à telona pelos irmãos Wachowski é uma referência significativa ao “Mito da Caverna”, criado pelo filósofo Platão há mais de 2.400 anos. Nesta alegoria o pensador grego nos leva a refletir sobre o processo em que se dá o conhecimento. Ele ressalta que muitas vezes enxergarmos o mundo bem mais pela ótica da aparência (através dos sentidos) do que pela da essência (através da razão).
Platão, que foi discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles, narrou no Mito da Caverna uma situação hipotética em que algumas pessoas teriam passado toda a vida, acorrentadas, dentro de uma caverna. Iluminados apenas pela luz de uma fogueira, estes prisioneiros viam projetadas na parede as sombras de tudo o que passava lá fora. Para eles aquilo era a única realidade.
No dia em que um deles consegue se soltar e fugir, a verdade muda de plano. Ele descobre que a realidade é algo completamente diferente de tudo que seus olhos se acostumaram a ver. Deslumbrado, o ex-prisioneiro resolve voltar à caverna para contar aos companheiros o que descobriu. No entanto, nenhum deles aceita a sua versão, uma vez que o conhecimento que tinham da realidade já estava cristalizado em suas mentes.
Assim como nessa alegoria, em Matrix os seres humanos que vivem uma rotina segura dentro de um mundo virtual perfeito resistem em ser acordados para a realidade. No início do filme Neo se comporta como os prisioneiros do mito de Platão, que seguem vivendo uma história em que nada é verdade. Morpheus, por sua vez, é como o prisioneiro, que se livra dos grilhões que o prendiam, conhece a verdade e se vê impelido a retornar para avisar aos demais que eles estão sendo enganados.
A história da Filosofia mostra que nenhuma teoria, por mais antiga que seja, deve ser considerada ultrapassada em termos de conteúdo. A explicação é simples: a evolução espiritual da humanidade não caminha lado a lado com a sua evolução mental, com a tecnologia oriunda dela. Sendo assim, há muito que se aprender com os mestres do passado; há muitos enredos futuristas que se casam perfeitamente com histórias milenares.
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