Platão e a Academia

Tendo como pressuposto que Platão equipara virtude a conhecimento, e que a coragem está ao lado da razão, é a razão quem deve governar a alma. A razão tem o poder da reflexão, que dá a clareza de consciência, que permite analisar todos os atos. Eis que o que se dá na alma é o que chamamos de educação. E a alma busca o Bem, essa é a finalidade de todos os seus atos. Assim, a filosofia é realizada na Academia de Platão, pela oralidade, a vida comunitária regida pelos discursos e diálogos, pela educação da alma. O método socrático e a matemática (fonte em Pitágoras) são ciências necessárias à formação do filósofo, sendo que a matemática revela ordem, harmonia, fornecendo uma visão de perfeição do mundo inteligível. 

Platão desiludiu-se com a política, diante das corrupções e violências cometidas no governo. Ficou impressionado com a morte de Sócrates, e constatou que há grande distância entre filosofia e política, e que são incomparáveis. Platão vê a filosofia com soberania para demonstrar a nível individual e público, o que é ser justo, para um governo e uma cidade justa. E que isso se concretizaria se os governantes fossem filósofos. 

A Academia objetivava formar novos homens, no sentido transformador do amor ao bem, num ato de sublimação, visando o tornar-se virtuoso pela ação. O filósofo é aquele que escreve na alma. E o verdadeiro conhecimento, é universal, refletido em si mesmo e de si toma consciência. Por isso nos diálogos há o comum acordo, onde se superam os pontos de vista individual. Entretanto havia a liberdade de pensamento, de expressão. O fundamento da escola era o ato do diálogo, visto e tido como um modo de vida, pois o mesmo conduz à transformação do ser humano. 

A vida intelectual é uma conversão da alma, que busca purificar-se, tomando consciência em si mesma das verdades eternas, libertando-se de todos os dogmas, das ilusões do mundo aparente. A alma se dispõe, escolhe o bem, visando uma vida boa e digna, e a sua libertação. Nas questões de se tornar um homem virtuoso, o conhecimento abstrato não interfere nos atos. Ele fornece os motivos para a ação, mas não modifica no coração dos homens a intenção de tal ação. Para atingir e influenciar a intenção nos atos dos homens é preciso que a alma tome consciência de si mesma, para apurar se o ato é intento de bondade sincera, de desinteresse e nobreza. É no ato, na conduta da ação do homem, que se vê e opera a virtude. Na ação é que está o seu fundamento moral, o conceito somente exprime de modo abstrato a sua realidade. 

Platão diferencia os dois tipos de escrita que podem ser impressas: a escrita gravada na alma dos homens, e a escrita nos rolos de papel. E ele considera filósofo, aquele que tenta escrever na alma dos homens. Por isso, atribuía grande importância à oralidade. Os escritos em papel são passíveis de diferentes interpretações, e capazes de despertarem os mais variados sentimentos. Uma palavra escrita que está simplesmente impressa em papel aparente, corresponderia, a uma cópia da cópia. Por isso, a alma tem tanta dificuldade de reconhecer, de lembrar-se do verdadeiro conhecimento. 

Uma palavra escrita tem que ser revivida (rememorada), para ser sentida e tocar nas profundezas da alma. Não basta a razão, o intelecto, refleti-la simplesmente. Precisa unir essa reflexão ao sentimento, que combinado à imaginação, vai ao encontro da idéia, a única e imutável que originou tal pensamento. Pois a variação das representações dá-se na aparência, na multiplicidade do mundo dos sentidos. E a razão, enquanto em contato com os sentidos, produzirá os mais variados conceitos, que não corresponderão à idéia em essência. Desse modo, a palavra falada tem o poder de firmar-se na nossa interioridade, pois no momento em que é proferida, é vivida, sentida, e se sentida é real. Os discursos escritos para serem estudados com fins didáticos, e inscritos na alma, devem ter como temas o bom, o belo e o justo. 

Daí Platão ver o poder da transmissão do conhecimento pela oralidade. Pois a oralidade exterioriza, os sentimentos (rememoração) gravados na alma, quando da contemplação das idéias, e foram alcançados pelo pensamento, no uso da reflexão, isolado de todos os sentidos fenomênicos, pois são mutáveis e aparentes. O conhecimento é apreendido no curso da experiência, em contato com as coisas sensíveis, como uma espécie de rememoração. Pois, o mundo sensível participa do inteligível, traz na sua essência o princípio original. E o homem vem a conhecer, a saber, o que quer, por que quer, porque finalmente consegue compreender o que é.

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