A figura estereotipada do S. foi traçada pela filosofia grega do período alexandrino por epicuristas, estóicos e céticos (sobretudo pelos estóicos) e entrou para a tradição com certas características fundamentais. O caráter primordial e fundamental que as três escolas atribuem ao S. é o de serenidade Ou indiferença em relação âs vicissitudes ou aos movimentos humanos, ao que dão o nome de ataraxia, aponia ou apatia (v.). As outras características são as seguintes:
1° Isolamento, como claro afastamento dos outros mortais, com os quais o S. nada tem em comum. Os estóicos levaram esse afastamento ao limite extremo, admitindo duas espécies de homens, os que praticam a virtude e os que não a praticam, dizendo que os primeiros são sábios e todos os demais, loucos. (J. STOISHO, Hei, II, 7, 11; 65. 12).
2° Impossibilidade de progresso: quem não é S. é tolo ou louco, e não pode haver S. que seja mais S. que outro. Cícero diz: "Quem está imerso na água. mesmo que esteja tão perto da superfície a ponto de quase emergir, não consegue respirar tanto quanto se estivesse ainda no fundo (...): da mesma maneira, quem avançou um pouco em direção ao hábito da virtude não está menos sujeito á infelicidade do que quem não avançou nem um pouco" (Definibus, III, 14, 48).
3° Autarquia. Este caráter já foi exaltado por Aristóteles: "O justo ainda necessita de pessoas que possa tratar com justiça, com as quais ser justo; o mesmo se diz do homem moderado, do corajoso e cada um dos outros homens virtuosos. O S., ao contrário, pode contemplar sozinho, tanto mais quanto mais for S.; talvez seja melhor quando tem colaboradores, contudo é totalmente auto-suficiente" (El. nic, X, 7, 1177 a 30). No entanto, Aristóteles fazia alusão à ati vidade contemplativa, à qual se limitava o S.; as escolas pós-aristotélicas estendem o caráter de auto-suficiência do S. a todas as manifestações de sua vida, não limitada necessariamente à contemplação. 4° Renúncia. Foi nesse caráter que os estóicos latinos, Epicteto, Sêneca e Marco Aurélio mais insistiram. Em vista da distinção feita por Epicteto entre as coisas que o homem pode dominar (seus estados de espírito), e as que ele não pode (as coisas exteriores), o S. deve renunciar às coisas externas e colocar o bem e o mal unicamente nas que estão em seu poder (Manual, 31). Isso implica a renúncia a ocupar-se das coisas e a aceitação da máxima "suporta e abstém-te" (A. GÉLIO, Noct. Att., XVII, 19. 6). 5° Consciência. Esta característica foi acrescentada à figura do S. pelo neoplatonismo, que exaltou principalmente a faculdade de olhar para dentro de si, extraindo tudo de si mesmo. Plotino diz: "O S. extrai de si mesmo aquilo que manifesta aos outros: olha apenas para si: não só tende a unificar-se e a isolar-se das coisas exteriores, mas também está voltado para si e encontra em si todas as coisas" (Enn., III. 8, 6; tf. I, 4, 4). Este movimento de olhar para si mesmo e encontrar tudo em si é a consciência (v.); segundo este ponto de vista, é só no S. que a consciência se realiza e vive. |
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