ATO

Esse termo tem dois significados: 1° de ação, no sentido restrito e específico desta palavra, como operação que emana do homem ou de um poder específico dele (v. AÇÃO, 2). Dizemos, com efeito, "A.
voluntário", "A. responsável" ou "A. do intelecto",
"A. moral", etc.; mas não dizemos "A. dos
ácidos sobre os metais" ou "A. destrutivo do
DDT", etc, usando, nesses casos, a palavra
"ação"; 2° de realidade que se realizou ou se vai
realizando, do ser que alcançou ou está alcançando
a sua forma plena e final, em contraposição com o que é simplesmente potencial ou possível.

No segundo sentido, essa palavra faz referência
explícita à metafísica de Aristóteles e à
sua distinção entre potência e ato. O A. é a
própria existência do objeto: está para a potência
"assim como construir está para saber construir,
como estar acordado está para dormir,
como olhar está para estar de olhos fechados
podendo enxergar, e assim como o objeto extraído
da matéria e elaborado à perfeição está
para a matéria bruta e para o objeto ainda não
acabado" (Mel, IX, 6, 1.048 a 37). Alguns A. são
movimentos, outros são ações: são ações os movimentos
que têm fim em si mesmos, p. ex.:
ver, entender ou pensar, ao passo que aprender,
caminhar, construir tem finalidade fora de
si mesmos, na coisa que se aprende, no ponto
a que se quer chegar, no objeto que se constrói.
A ação perfeita, que tem seu fim em si
mesma é chamada por Aristóteles A. final ou
enteléquiaiy.). Enquanto o movimento é o processo
que leva gradualmente ao A. o que antes
estava em potência, a enteléquia é o termo
final (telos) do movimento, a sua perfeita realização.
Como tal é também a realização completa,
portanto, a forma perfeita do que vem a
ser, a espécie e a substância. O A. precede a
potência tanto em relação ao tempo quanto em
relação à substância, pois, embora a semente
venha antes da planta, na realidade ela só pode
provir de uma planta. Aquilo que no devir é
último é, substancialmente, primeiro: a galinha
é anterior ao ovo (ibid., IX, 8, 1.049 b 10 ss.).
Tais distinções dominaram por muitos séculos
o pensamento ocidental e passaram a fazer parte
da linguagem comum. S. Tomás repropõe essas
distinções com sua costumeira clareza a propósito
da diferença entre A. e ação, dizendo: "O A.
é duplo, isto é, primeiro e segundo. O A. primeiro
é a forma e a integridade da coisa {forma
et integritas rei); o A. segundo é a operação
(operatio)" (S. Th., I, q. 48, a. 5; Contra Gent.,
II, 59). Em outros termos, toda realidade como
tal é A. e, portanto, a ação também é A.; p. ex.,
uma operação da vontade ou do intelecto,
embora não se trate, nesse caso, de um objeto
existente.

Na conceção aristotélica, a distinção entre
matéria e A. determina a ordenação hierárquica
de toda a realidade, que vai de um limite inferior
extremo, que é a matéria-prima (v.), pura
potencialidade indeterminada, até Deus, que é
puro A., sem mescla de potencialidade. Deus é o Primeiro Motor imóvel dos céus; e, como o
movimento dos céus é contínuo, seu motor
não só deve ser eternamente ativo, mas deve
ser, por natureza, atividade, absolutamente desprovido
de potência. E, como a potência é matéria,
ele é também desprovido de matéria, A.
puro (Met., XII, 6, 1.071 b 22). A noção de
A. puro continuou sendo fundamental para a elaboração
da idéia de Deus no pensamento ocidental.
A ela recorrem algumas modernas "filosofias
do A.", como a de Gentile, que pretende
realizar a rigorosa e total imanência de toda a
realidade no sujeito pensante, isto é, no pensamento
em ato( Teoria generale dello spirito come
attopuro, 1916); ou a de Louis Lavelle (LActe,
1937), na qual Deus é definido como A. participante
e a existência do homem como A. participado.

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