De um ponto de vista genérico e com base em qualquer dos teóricos modernos, a arte é pois todo trabalho criativo, ou seu produto, que se faça consciente ou inconscientemente com intenção estética, isto é, com o fim de alcançar resultados belos. Se bem que o ideal de beleza seja de caráter subjetivo e varie com os tempos e costumes, todo artista - seja ele pintor, escultor, arquiteto, ou músico, escritor, dramaturgo, cineasta - certamente investe mais na possível beleza de sua obra do que na verdade, na elevação ou utilidade que possa ter. Nas artes visuais, contemporaneamente chamadas artes plásticas, esse traço geral esteve sempre presente, assim como os outros que eventualmente se lhe acrescentam, isto é, a originalidade, o aspecto crítico e muitas outras características.
Como se preocupa mais com a beleza do que com a verdade, o artista jamais aceita apenas o real como fonte de matéria-prima. Até mesmo quando historicamente orientado pelo realismo -- como atitude e movimento estético -- não pode dispensar como fonte de matéria-prima, e de seu trabalho, seu mundo interior, sua experiência subjetiva e, em uma palavra, sua imaginação. Bem consideradas as coisas, é possível depreender o credo estético de um artista conforme o maior ou menor peso conferido por ele a essas duas fontes primordiais, o real e o imaginário.
Artes Plásticas
Conforme as qualidades intrínsecas ou as finalidades a que se destinem, as artes plásticas ou artes visuais podem ser classificadas em quatro categorias: pictóricas, escultóricas, construtivas e aplicadas. As artes pictóricas são as que se desenvolvem sobre uma superfície bidimensional, como o desenho (a bico-de-pena, a tinta, a carvão, a pastel, a giz), a pintura (óleo, têmpera, aquarela, guache), a gravura (plana, de incisão, de relevo), o mosaico e a fotografia. Entre as artes escultóricas se colocam todos os tipos de escultura, do baixo-relevo ao bloco esculpido. A arquitetura corresponde sozinha à terceira categoria, das artes construtivas e, entre as artes aplicadas ou utilitárias, enumeram-se a cerâmica, os trabalhos em vidro, marfim, madeira, materiais têxteis etc. As artes aplicadas também são às vezes subdivididas em utilitárias e decorativas.
São elementos básicos das artes plásticas o ponto, a linha, o plano, a textura, a cor, a massa e o espaço. Tais elementos ocorrem conjuntamente em qualquer obra de arte, embora um ou outro seja sempre levado a sobrepujar os demais, segundo o estilo e as pretensões do artista.
Ponto
O elemento mais simples é pois o ponto, pequena marca em determinado espaço que pode chamar a atenção do olhar, conforme sua posição (foco). Isolado, é elemento estático; combinado com outros pontos, pode-se transformar em dado sugestivo de movimentação e de ritmo.
Linha
Uma sucessão contínua de pontos passa a ser a linha, capaz de sugerir deslocamento e de tornar-se expressiva por si mesma. Uma linha horizontal pode exprimir a calma, o repouso, a estabilidade; a vertical, a dignidade, a altivez; a oblíqua, o desequilíbrio, a transição, a queda; a curva, a sensualidade.
Plano
Espaço ocupado pela obra de arte, o plano pode ser real ou ideal como, por exemplo, na arquitetura ou na pintura. Compreende o espaço positivo, ou seja, aquele que verdadeiramente é utilizado pelo artista, e o espaço negativo, ou seja, o das zonas de repouso, e que corresponde à pausa musical. Dá-se o nome de "composição espacial" à disposição, no plano, dos espaços positivos e negativos.
Textura
A textura é um elemento que deriva da própria qualidade física do plano. O papel, o pano, a madeira, a pedra, cada um desses materiais tem sua textura inconfundível e que se impõe ao tato: é o que Bernard Berenson denominou valores táteis de uma obra de arte. A textura muitas vezes é qualidade fundamental da obra e, como tal, não se mostra apenas para ser vista: precisa ser tocada.
Cor
Elemento dos mais determinantes é a cor, que ocorre universalmente na natureza, como na obra de arte. Define-se como qualquer sensação visual que derive da luz. As cores perceptíveis no arco-íris chamam-se matizes e podem ser reduzidas a 12, embora exista entre elas um número infinito de gradações: amarelo, amarelo-verde, verde, azul-verde, azul, azul-violeta, violeta, vermelho-violeta, vermelho, vermelho-laranja, laranja, amarelo-laranja.
As cores encontradas na natureza são o vermelho, o amarelo e o azul. São as chamadas cores primárias. Misturando-se duas cores primárias, obtém-se uma das que são ditas secundárias. Desse modo, a mistura de amarelo e azul dá o verde, a de amarelo e vermelho, o laranja, a de azul e vermelho, o violeta. A mistura, em partes iguais, de uma cor primária e uma secundária dá um matiz terciário: amarelo-laranja, vermelho-laranja, amarelo-verde, azul-verde, azul-violeta, vermelho-violeta.
Outra noção muito empregada é a de cores quentes e frias. Estariam no primeiro caso as que, por associação com determinadas idéias, lembram o calor do sol e o fogo (o amarelo, o laranja, o vermelho), e no último caso as que lembram a noite, o mau tempo, o gelo (o azul, o violeta). A disposição de sentido harmônico, num plano, de cores quentes e frias em alternância recebe o nome de "composição cromática". A expressividade ou o significado particular de determinadas cores foi especialmente valorizada por alguns artistas e tendências. É famosa a declaração de Van Gogh de que procurara "exprimir com o vermelho e o verde as terríveis paixões humanas".
Massa
Assim como a cor é de importância primordial para a pintura e secundária para as demais artes plásticas, a massa é fundamental para as artes tridimensionais, escultura e arquitetura, embora também esteja presente nas artes bidimensionais, ao menos como ilusão. A noção de massa pressupõe a quantidade de matéria utilizada na obra de arte e a presumível gravidade a que essa matéria estaria submetida. Todas as massas se aproximam de uma das formas geométricas básicas (a esfera, o cilindro, o cubo, o cone, a pirâmide) e é no reconhecimento de tais formas que o ser humano alcança uma de suas maiores fontes de satisfação nesse campo. Isso é evidente entre os arquitetos egípcios que construíram as pirâmides, entre os arquitetos góticos que faziam suas catedrais em forma de cone ou na escolha feita por Brancusi de uma forma cilíndrica elementar como base de seus Pássaros.
Espaço
O último dos elementos é o espaço, que age diretamente sobre a estrutura de qualquer obra tridimensional e, negativamente, sobre as bidimensionais (em que o espaço negativo é aquele não ocupado por nenhuma massa). O espaço adquire sua máxima importância na escultura e na arquitetura modernas. Um dos axiomas da teoria da arte é que os espaços positivos, isto é, aqueles efetivamente trabalhados pelo artista, concorrem igualmente com os espaços negativos para a eficiência do todo.
Classificação das Artes
Como ficou bastante claro, elaborar uma classificação das artes é tarefa das mais difíceis, dada a necessidade de se adotar um critério objetivo e universal a propósito do próprio conceito de arte. Todavia, restringindo-se o critério às disciplinas tradicionalmente consideradas artísticas, ou seja, às belas-artes, aquelas cujo fim primordial é proporcionar uma impressão estética a seu receptor, vêem-se claras diferenças entre elas.
Por isso, atentando especialmente para os meios que cada uma utiliza, conheceram-se diversas classificações, que permitem, pelo menos, a delimitação de seus elementos constitutivos. O primeiro a chamar a atenção para o problema da diversidade das artes foi o alemão Gotthold Ephraim Lessing, que em Laokoon: oder über die Grenzen der Malerei und Poesie (1766; Laocoonte ou Sobre os limites da pintura e da poesia) analisou as interferências da linguagem poética na pintura. No século XIX, o tcheco Robert von Zimmermann organizou uma classificação das artes segundo suas formas de representação: (1) artes de representação material: arquitetura, escultura etc.; (2) artes de representação perceptiva: pintura, música; (3) artes de representação do pensamento: poesia.
Tais distinções, no entanto, eram excessivamente vagas, uma vez que seu autor reduzia os elementos temporais a espaciais ou "representações" e não hesitava em afirmar que o ritmo era apenas uma forma particular da simetria. Há, por isso, uma precisão maior nas classificações da arte em função de seus meios expressivos, como a que se segue:
(1) Artes espaciais. Incluir-se-iam entre as artes espaciais todas as artes plásticas. Seria proveitoso, neste ponto, distinguir as bidimensionais, como o desenho e a pintura, e as tridimensionais, como a escultura e a arquitetura. Características definidoras dessas artes seriam sua situação espacial, sua atemporalidade -- não implicam um desenvolvimento no tempo -- , e o fato de que o sentido mais importante para sua apreciação estética é a visão, motivo por que também foram chamadas "artes visuais".
(2) Artes temporais. Seriam temporais todas as artes que implicam um processo no tempo. Costumam distinguir-se as artes sonoras, como a música instrumental -- que, além disso, é intermitente, isto é, só existe como tal quando é executada -- e as artes verbais, que compreenderiam gêneros literários como a poesia e o romance.
(3) Artes mistas. Consideram-se na área das artes mistas as disciplinas artísticas em que intervêm, combinados, elementos pertencentes aos dois grupos anteriores. O teatro, por exemplo, ainda que seja um gênero literário, inclui a representação espacial; a dança é ao mesmo tempo espacial e temporal; e a ópera compreende, além disso, componentes literários, assim como o cinema.
Formas e Técnicas
A arte está sempre ligada às circunstâncias históricas e geográficas em que se situa. Quando, por exemplo, se teve em mira reconstruir os templos da Acrópole no século V a.C., em Atenas, as intenções de Péricles e de Fídias teriam assumido forma inteiramente diversa, se não fosse a quantidade de mármore existente no monte Pentélico, há alguns quilômetros apenas. Do contrário, teria sido preciso usar a pedra trazida por mar desde a Jônia, através do Egeu.
Assim também o gênio escultórico de Michelangelo teria se desenvolvido de maneira diferente, se não fosse a qualidade do mármore de Carrara e de outras regiões da Itália. De forma parecida, um jovem pintor que tivesse nascido no século XVI, em Veneza, dificilmente poderia vir a ser um grande muralista, se decidisse permanecer em sua cidade natal, onde as condições climáticas desaconselhavam a prática do afresco e estimulavam a da pintura a óleo. É claro que um artista medieval teria de optar pela forma bidimensional, representada pelo mosaico ou pela iluminura, enquanto outro, renascentista, optaria pelas técnicas da tridimensionalidade, proporcionadas pelas perspectivas linear e aérea.
Cabe ao artista, portanto, e de acordo com as possibilidades do meio, a escolha do método expressivo, dos utensílios e técnicas mediante os quais se comunicará com os homens. Será preciso ainda, mediante uma prática permanente, aprimorar sua habilidade de maneira a subjugar materiais e técnicas a seus projetos. Pode, assim, aspirar a soluções pessoais para a expressão de suas idéias e emoções. Secundariamente, deverá levar em conta certas considerações externas, como natureza das encomendas e fins a que se destinam.
Sua obra será exibida em ambiente sacro ou profano? Seu destinatário é uma elite ou o público em geral? O meio expressivo, assim como os materiais e técnicas empregadas pelo artista, inevitavelmente revelarão os gostos de seu tempo, as idéias dominantes e as tendências estilísticas da época.
O estilo pessoal do artista, conseqüentemente, será determinado não apenas pelo espírito do período histórico em que vive e produz, como por sua habilidade artesanal e pela natureza das diversas técnicas de que se valha. A técnica do afresco, por exemplo, remonta a tempos antigos e, embora tenham variado muito as formas de sua representação, os métodos e procedimentos básicos do afresco pouco se alteraram desde os tempos greco-romanos.
Outras técnicas, como a encáustica ou o mosaico, caíram em quase completo olvido, apesar de tentativas esporádicas para ressuscitá-las. No entanto, continuam aparecendo novas técnicas e, logo depois de uma fase de experimentação, passam a integrar a prática dos artistas contemporâneos. Relacionem-se, por exemplo, o duratex, empregado há algumas décadas como suporte pictórico, o acrílico e outros novos materiais da escultura, a serigrafia e muitas outras técnicas de gravura. À medida que variam as técnicas, o escultor de hoje utiliza tanto o cinzel quanto o maçarico, pois o metal continua a ter larga utilização.
Imaginação e Criação
Como o real, em si, pode despertar no homem, além da arte, tanto a filosofia como a ciência, deve-se apontar como fonte mais determinante da criação artística a imaginação. Esta, em última análise, é a capacidade de projetar imagens. A partir de um núcleo inicialmente incerto de emoção e de necessidade expressiva, o artista concebe uma imagem. Gera do nada alguma coisa vivente, e do caos extrai a ordem , isto é, chega a uma relação de partes harmônicas. O aprimoramento das habilidades do artista torna-se necessário para que possa comunicar a outras pessoas aquilo que concebe. A arte transforma-se numa linguagem composta de imagens e símbolos, pela qual o homem se comunica em termos mais perceptivos do que conceituais.
O papel do artista, portanto, é interpretar, explicar e dramatizar o mundo em que vive, em todos os seus aspectos. Enquanto processo criativo, a arte envolve a participação tanto do artista criador quanto de seu público. A produção artística desenvolve-se, desse modo, em dois ou três tempos: com o próprio artista como força primeira, com o intérprete ou crítico como intermediário e com o público como destinatário final. Os três componentes tomam parte no processo e a participação de cada um depende da intensidade de seu empenho.
Assim, a produção de obras de arte não se acha confinada entre os artistas: em suas atividades cotidianas, todos produzem imagens, como o falar, o gesticular, o vestir, pois, consciente ou inconscientemente, estão envoltos no processo pelo qual projetam sua própria imagem psicológica e social. Mais ainda: ao participar de uma obra de arte como seu observador, o homem não é um receptor passivo de imagens e impressões, mas também um agente do processo criativo. Ao entrar em contato com a obra de arte, precisará recrutar uma série de imagens, percepções e impressões correspondentes, frutos de sua própria imaginação e experiência. A intensidade de sua participação pode ser bem menor do que a do artista criador, mas estará envolto, como espectador, na atividade dinâmica de corresponder à mensagem. Pela educação, poderá ainda disciplinar a imaginação, desenvolvê-la, conferir ao olho e à mente vocabulários perceptivos capazes de lhes possibilitar a recepção e o entendimento de matizes cada vez mais sutis de percepção. Paralelamente, sua acuidade crítica há de ficar cada vez maior. As imagens mentais, produzidas como são por sensações, assumem determinadas formas, perceptivas e simbólicas, associadas à visão (imagens visuais), à audição (sonoras), ao olfato (olfativas), ao paladar (gustativas), ao tato (táteis) e ao movimento muscular (imagens cinestésicas). A expressão artística recorre sobretudo aos chamados sentidos superiores da visão e da audição mas, embora menos diretamente, também se vale dos demais.
Técnicas da Arquitetura
Historicamente, a arquitetura deveria ser o ponto de partida de qualquer análise das artes plásticas, uma vez que forneceu ao homem o abrigo contra a intempérie e uma moldura de segurança para suas atividades domésticas, religiosas e sociais. Em sentido amplo, a arquitetura pode englobar o planejamento urbano e regional, o paisagismo etc.
A arte de construir é possivelmente o melhor exemplo de cooperação e identificação básica entre as belas-artes e as artes utilitárias, entre a beleza e a utilidade, entre a forma e a função. Um edifício compreende a solução de uma série de problemas práticos associados à finalidade a que se destina, seja templo ou habitação, fábrica ou biblioteca.
A primeira preocupação de um arquiteto é a definição e articulação do espaço externo e o encerramento do espaço interior. Desde o momento em que se traça um círculo ou um quadrado sobre um terreno, uma área foi separada de outra, e teve início o processo arquitetônico. À medida que preenche o espaço, o arquiteto depara com problemas já técnicos já de ordem estética. Deve, no emprego dos materiais, preocupar-se com sua qualidade, textura, cor e capacidade, com a correta proporção entre massas e vazios, com o controle e o fluxo da iluminação, com a relação harmônica de portas e janelas com o espaço fechado e, sobretudo, com a existência das diversas pessoas que poderão viver e trabalhar no interior e em torno do edifício.
A história da arquitetura poderia ser definida como a solução gradativa de problemas estruturais. A transição que vai do teto mais primitivo e da rude construção em treliça até as colunas verticais que suportam traves horizontais estende-se por todo o período que vai do começo da civilização às antigas culturas egípcia e grega. Os romanos fizeram bom uso do arco, da abóbada e da cúpula, e souberam compreender melhor a função de arrimo das paredes de alvenaria.
No final da Idade Média apareceram o arco pontiagudo, os sistemas de vigamento e de pilastras. A essa altura, praticamente todos os problemas relativos à construção com tijolos ou alvenaria tinham sido resolvidos. Poucos novos progressos se registrariam até a primeira revolução industrial, exceto em aspectos concernentes à decoração.
No século XIX, com o advento do ferro fundido e das estruturas de aço, começou uma nova era arquitetônica, que possibilitou edifícios mais altos, maiores e mais leves. Com os progressos tecnológicos do século XX, novos materiais como o concreto armado, o alumínio e os vidros especiais, somados a muitos novos métodos de engenharia, revolucionaram as conquistas da arquitetura. A partir daí, a arquitetura, enquanto arte, e a engenharia, enquanto ciência prática, separadas desde os tempos do Renascimento, reaproximaram-se cada vez mais.
Técnicas da Escultura
Como a arquitetura, a escultura desenvolveu-se no espaço tridimensional. Ao contrário dela, no entanto, pode representar formas naturais, além das puramente abstratas. A escultura e a arquitetura coexistem sempre em estreito relacionamento, já que a maior parte do ornato arquitetônico, tanto externo quanto interno, é concebida em termos escultóricos: frisos, cornijas, estátuas dispostas em nicho e tantas outras modalidades.
Há dois tipos de escultura: em relevo, em que as formas se destacam de um fundo, contempladas contra um plano, e em redondo, em que as figuras se desenvolvem livremente no espaço real. Certos tipos de escultura moderna chegam a fazer uso do movimento real (mobiles), tangidas pelo vento ao serem suspensas no ar. O movimento em si mesmo torna-se parte da escultura, quando anteriormente podia ser simulado ou sugerido.
Teoricamente, qualquer material capaz de ser plasmado e de reter a forma assim obtida pode ser usado pelo escultor. Os materiais tradicionais são a madeira, a argila, a pedra e o metal. Em cerâmica, argilas de vários tipos são inicialmente plasmadas a mão e a seguir, endurecidas ao fogo. A talha em madeira ou pedra também se acha entre os procedimentos mais antigos e rudimentares, enquanto a escultura em metais, como cobre, prata ou ouro, assim como a moldagem em bronze, requerem técnicas bem mais complexas.
Os escultores do século XX passaram a utilizar metais como alumínio, ferro, aço, tratados com métodos e ferramentas recentes como a fundição e o maçarico. Foi o fascínio pelos materiais novos e pelas técnicas inéditas que levou ao aparecimento da escultura abstrata. Também as sobras das sociedades industriais e de consumo -- como, por exemplo, as engrenagens, os discos de aço, a sucata, o lixo, as carcaças de velhos automóveis -- foram encaradas como matéria-prima pelos escultores, que realçam desse modo o relacionamento cada vez mais estreito entre o homem e a máquina. Além disso, novos materiais sintéticos, plásticos, fibras de vidro, papel, papelão, integram também a criação escultórica.
Costuma-se dividir as técnicas da escultura em dois grandes grupos, conforme se baseiem na adição ou subtração de matéria. No primeiro caso, o escultor, que trabalha, de um modo geral, com material mole e plasmável como a argila, cera ou gesso, cria sua obra a partir de um núcleo central e dá forma e volume ao trabalho, do centro para a periferia. O produto final pode ser submetido a um processo de endurecimento em forno (caso da terracota) ou transferido, mediante moldagem, para um metal como prata ou bronze.
Muitos escultores contemporâneos trabalham com o método aditivo: fazem assemblages de pedaços de madeira, pedra, metal, plástico etc. Pela técnica subtrativa, o escultor, dispondo de um bloco de matéria sólida como madeira ou mármore, desbasta-o pouco a pouco, trabalhando do exterior para o interior. O material, portanto, é gradativamente removido e o que dele resta constitui o produto final ou escultura propriamente dita.
Além de ter de ordenar linhas, planos, massas e volumes, o escultor deve levar em consideração a textura e a cor dos materiais que emprega, bem como a função que sobre estes exercerão a luz e o sombreado. Os valores táteis têm papel importante e a iluminação deve também preocupar o escultor, que terá sempre em vista o local em que será exposto o trabalho: se dentro de um aposento iluminado artificialmente, se ao ar livre e à luz natural, se iluminado do alto para baixo ou de baixo para cima etc.
É devido a esses fatores que, algumas vezes, esculturas que foram tiradas de seu cenário original e colocadas em museus já não impressionam tanto quanto antes. Um bom exemplo são as esculturas do frontão do Partenon: concebidas para serem apreciadas a uma altura de cerca de 11m, no Museu Britânico são vistas ao nível do olho humano, inevitavelmente com menos impacto.
Dentre as artes menores de caráter tridimensional, destaca-se a do ourives, que trabalha com metais. Seus materiais, embora às vezes mais preciosos que o metal do escultor, também são maleáveis e podem ser moldados, mas ensejam ainda importante trabalho de decoração, pelo qual são gravados ou engastados conforme a técnica do repoussé (de impressão à mão) ou são submetidos a técnicas como a da damasquinaria (pela qual são embutidos desenhos de ouro ou prata em metal brilhante) ou o esmaltamento cloisonné (em que os motivos, em esmalte, são separados em pequenos compartimentos).
Além das artes decorativas, como a ourivesaria, o entalhe em osso e marfim, lapidação de pedras preciosas e numismática (retratos em camafeu), existem outras artes que reúnem beleza e utilidade, como a cerâmica, a cestaria, a vidraria, a marcenaria etc. O moderno desenho industrial também é cada vez mais expressivo.
Técnicas da Pintura
Como em qualquer outra das artes plásticas, a imagem pictórica é fictícia, isto é, não tem existência física tridimensional. Visto que o artista só trabalha sobre um plano, tem de recorrer a expedientes que lhe possibilitem representar os objetos no espaço. Tais métodos incluem a perspectiva, o chiaroscuro e o uso da cor. A perspectiva linear parte das premissas de que, à proporção que os objetos se afastam do olho, ficam parecendo menores; e de que a área em torno deles, de diluição da forma, perde seus contornos à distância.
O chiaroscuro, ou gradação entre a luz e o sombreado, tal como estes são refletidos pelos objetos, produz o efeito do modelado -- termo que os pintores tomaram de empréstimo à escultura. É preciso ainda observar a perspectiva cromática, baseada no princípio de que as cores "quentes" (como o vermelho) parecem mais próximas do espectador do que as "frias" (como o azul).
Os materiais de que uma pintura se compõe dependem sempre das técnicas empregadas, mas há três que são indispensáveis na maior parte dos casos: uma superfície (denominada suporte pictórico), os pigmentos utilizados na obtenção das cores e os utensílios com que se espalham esses pigmentos sobre o suporte.
O termo "agente", em pintura, tem um significado especial, pois designa o veículo de suspensão e fixação dos pigmentos. Um desses veículos é o pastel: bastões de giz a que se acrescentam as cores, visados para pintar sobre papel. Terminada a obra, esparge-se um fixador. Outro veículo é a aquarela, em que os pigmentos são diluídos em água e as tonalidades controladas segundo a maior ou menor quantidade desse líquido. Aplica-se sobre papel ou seda. Já na técnica do guache, adiciona-se às tintas de aquarela um ingrediente opaco, como o branco-de-zinco, com a obtenção de peculiares efeitos de textura.
A pintura do afresco é feita com tintas de aquarela sobre uma superfície ainda úmida de reboco e cal, em geral aplicados sobre muro ou teto. Combinadas, a pintura e o reboco secam conjuntamente e passam a fazer parte da superfície, que impregnam de maneira duradoura. Na têmpera, a substância aglutinante é a gema do ovo ou qualquer outra com igual teor de viscosidade. Essa técnica pode-se aplicar a muros, madeira ou tela, com ótimos resultados em durabilidade, textura e brilho. Um dos tipos de têmpera tem como veículo a caseína, extraída do leite.
O óleo é, de certo modo, o mais flexível dos veículos. Secando lentamente, permite ao pintor efetuar gradativas correções em seu trabalho, até atingir a qualidade desejada. Ao contrário da têmpera, que é opaca, a pintura a óleo permite a refração da luz e, conseqüentemente, a obtenção de efeitos luminosos e de transparência. Mais recentemente, fizeram-se experiências bem-sucedidas com resinas sintéticas e piroxilinas, tintas vinílicas e outras. Os muralistas mexicanos foram pioneiros na adoção de tais materiais, muitas vezes sobre uma superfície pictórica de cimento Portland.
Para aplicar os pigmentos, o pintor ordinariamente utiliza pincéis de vários tamanhos, com cerdas também de espessura variável. Facas, espátulas, cabos de pincel e os próprios dedos são às vezes empregados para alcançar certos efeitos. Há mesmo quem aplique a tinta diretamente com o tubo, ou com uma bomba de ar comprimido, ou usando um vaporizador.
Se bem que a pintura seja uma arte bidimensional, é possível adicionar-lhe uma terceira dimensão. A própria superfície do suporte pode ser realçada, por exemplo, com uma espessa camada de gesso. Ou então o pintor poderá lançar mão de grossas camadas de tinta, que constituem a técnica do impasto. Mais modernamente, a tridimencionalidade pode-se obter com a adição, aos pigmentos tradicionais, de areia, sementes, pequenos objetos etc.
Na maioria das pinturas a óleo, a mistura dos pigmentos se faz na própria superfície pictórica, não na palheta. Mas acontece, às vezes, que o artista não deseja propriamente misturar os pigmentos e sim justapô-los, deixando aos olhos de quem veja o quadro a tarefa de misturá-los mentalmente. Colocando assim, lado a lado, em pequenos pontos, pigmentos amarelos e azuis, o resultado será a formação, na retina do espectador, de belas tonalidades verdes. A técnica, a que se deu o nome de pontilhismo, foi de ampla utilização por pós-impressionistas que desejavam sugerir a brilhante natureza da luz solar.
Algumas técnicas artísticas apenas se assemelham às da pintura, como o mosaico, os têxteis e o vitral. O mosaico consiste na composição com grande quantidade de pedrinhas achatadas, de cor e brilho variáveis (tesserae), de maneira a formar um desenho sobre um fundo de argamassa. Embora certos efeitos de luz e sombra, e mesmo de perspectiva, possam ser obtidos, a essência do mosaico é uma bidimensionalidade que melhor se traduz em padrões de estilo abstrato ou semi-abstrato. É também o caso do vitral, como de certos têxteis como a tapeçaria e o bordado, processos artísticos fundamentalmente bidimensionais.
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