HARMONIA

A ordem ou a disposição finalista
das partes de um todo, como p. ex. do mundo,
ou da alma, foi denominada "Harmonia", pelos
pitagóricos, por ser proporção ou mescla dos
elementos corpóreos (cf. PLATÀO, Fed., 86 c).
Empédocles valeu-se desse conceito para definir
a natureza do esfero (Fr. 122, Diels). Esse termo foi usado por Leibniz na expressão Harmonia
preestabelecida, para designar determinado
sistema de comunicação entre as substâncias
espirituais (manadas) que compõem o
mundo. Leibniz acredita que tais substâncias
não podem influenciar-se reciprocamente, já
que cada uma está "fechada em si mesma", e
assim exclui a doutrina comumente aceita, da
influência recíproca. Exclui também a doutrina
por ele denominada assistência, que é própria
do sistema das causas ocasionais de Guelinx e
Malebranche, segundo a qual a comunicação
entre as várias mônadas seria estabelecida cada
uma por sua vez diretamente por Deus. A Harmonia
preestabelecida é a doutrina segundo a
qual as várias mônadas, como muitos relógios
perfeitamente construídos, estão sempre de
acordo entre si, mesmo seguindo cada uma
sua própria lei. Assim, a alma e o corpo vivem
cada um por conta própria, contudo em
harmonia, porque Deus coordenou as leis de
ambos. O corpo segue a lei mecânica, a alma
segue sua própria espontaneidade: a H. entre
eles foi predisposta por Deus no ato da criação
(Phil. Schriften, ed. Gerhardt, IV, p. 500).

Esse termo encontra-se com freqüência no
espiritualismo, especialmente em Ravaisson.
Whitehead utilizou-o para explicar a beleza, a
verdade, o bem, assim como a liberdade, a paz
e toda "a grande aventura cósmica". "A grande
H." — diz ele (Adv. ofldeas, p. 362) — "é a H.
de individualidades duradouras conexas na
unidade do fundamento. É por essa razão que
a noção de liberdade nunca abandona as civilizações
mais avançadas; a liberdade, em cada
um de seus muitos sentidos, é a exigência de
vigorosa auto-afirmação".

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